Como forma de poder enfatizar e empoderar o essencial e cada vez mais necessário, Talento Sénior nas empresas e organizações, e a sua extrema importância na sua requalificação e retenção, achei por bem deixar aqui o testemunho da Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources que enquanto profissional que está no interior das empresas e lida todos os dias com PESSOAS, achou importante partilhar na revista Human Resources esta sua experiência:
“Martim que não sabe parar, que trabalhou em três países com equipas interdisciplinares, que inventa o que fazer quando lhe escasseiam as obrigações. Filho de pai com a mesma energia no sangue e ele próprio um educador pelo mesmo exemplo. Martim agora com 53 anos a sentir-se traído, envergonhado, constantemente à procura de respostas para justificar o que teria feito de errado nos últimos 10 anos. O problema que estaria em si?
Ao longo do processo de luto, o círculo de relações começou a estreitar. Afinal não fora só o trabalho que perdera. Perdeu pessoas, supostas amizades, a fé. Muitos assistiram e quiseram saber o máximo possível durante os primeiros dois meses. Uma telenovela grátis de um conhecido próximo? Venha ela, enquanto o entusiasmo durou! Mas poucos permaneceram para além desse tempo. As telenovelas perdem o interesse após alguns episódios. E dá trabalho cuidar. Cuidar de quem não está bem não deve ser encarado com um trabalho, mas é percepcionado como tal e o acompanhamento como uma obrigação que, com o tempo, menos frequente se torna…
Martim mais desacompanhado, perdeu o sentido de humor, já não se ouviam as gargalhadas que provocavam outras. Tornou-se uma pessoa ressentida. Testa franzida, mãos fechadas, em silêncio. Temporariamente e com toda a legitimidade para assim estar e sentir.
Até ao dia. Não sei o que lhe aconteceu. Se foi a vida que chamou mais alto, a família que exigiu que regressasse ou a sua determinação que o acordou. Talvez todos os factores em uníssono, mas a verdade é que, ao fim de alguns meses, despertou.
Martim, luto feito, decidiu não se conformar. Cobrou ajudas que deu, ligou e voltou a ligar, insistiu apesar dos “nãos”. Perdeu a conta às vezes que ouviu que era overqualified; às que foi julgado pela idade e preterido, porque “afinal o processo não vai avançar”, não obstante o seu curriculum, a sua experiência de vida e de trabalho.
O talento sénior está a ser desconsiderado, resultado de preconceitos e estereótipos injustos como o receio da não actualização tecnológica, de um custo mais elevado, de uma falta de destreza física e intelectual, entre outros. Apesar de vivermos na era de escassez de talento, o estigma associado a um número que faz acender a luz vermelha no cérebro de quem está a recrutar continua latente.
Hoje, recebi finalmente a notícia pela qual tanto esperava. O Martim vai (re)começar a trabalhar! A empresa que o vai receber sabe o quanto vai ganhar com esta contratação. Deveriam outras seguir-lhe o exemplo. Maturidade, mundo, ponderação, solidez ética, entre outros. As pessoas que com ele trabalharão vão encantar-se com a dedicação, a latitude de soluções para problemas complexos, a capacidade de adaptação e de concretização.
Pode ser que daqui a mais dois anos leia um testemunho sobre esta contratação no site institucional da empresa. Nada como factos provados para ajudar a quebrar barreiras psicológicas. Precisamos de pessoas assim, haja quem as saiba valorizar.
Martim agora com 55 anos vai recomeçar.
Digo-lhe a brincar que esteve de licença sabática, ele responde-me com o seu sentido de humor que foi obrigado e que não gostou do presente.
Já se ri e já nos faz rir.
Bem-vindo de volta! Mostra-lhes como é teres contigo a experiência para partilhar e o equilíbrio para continuar a aprender!”
Obrigada Martim pela coragem!!