DESAFIOS: Dossier “Pessoas nas Empresas”

A convite da NERLEI (Associação Empresarial da Região de Leiria) colaborei na realização de um artigo para a Revista Desafios que inclui um dossier que neste mês se focou no tema ” Pessoas nas Empresas”.

O mercado de trabalho está a passar por um processo de alterações profundas. Fruto da automação e da digitalização, enquanto algumas competências se tornam obsoletas, outras nascem; a forma de desempenhar o trabalho reinventa-se, com a afirmação do teletrabalho na pandemia de Covid-19; a escassez de trabalhadores em algumas áreas, aliada ao envelhecimento da população, torna premente a capacidade de reter talento, que passa tanto por valorizar a geração X (nascida 1960-1979), como atrair e acolher a geração Z (nascida 1995-2000); a necessidade de superar os desafios quotidianos de maneira saudável obriga os trabalhadores a terem de desenvolver competências socioemocionais (autoestima, autoconfiança, autonomia, responsabilidade, ética, empatia, liderança, comunicação, paciência, organização, flexibilidade, criatividade, resiliência, senso de prioridade, concentração, automotivação) como complemento às Hard Skills, Soft Skills e Real Skills.

Aqui podem ler na íntegra o meu contributo, parte do resultado final da Revista.

 

DOSSIER . Opinião

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CONJUGAR AS PRÁTICAS AGE FRIENDLY NAS EMPRESAS, COM A NECESSIDADE DE ATRAIR, ACOLHER E RETER O TALENTO DAS NOVAS GERAÇÕES. É POSSÍVEL? COMO FAZÊ-LO?

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OS TRABALHADORES MAIS JOVENS TÊM UM MELHOR DESEMPENHO NAS HARD SKILLS, O QUE É MAIS ATRATIVO PARA AS EMPRESAS. NO ENTANTO, É IMPORTANTE REFORÇAR QUE OS TRABALHADORES MAIS VELHOS, COMO TÊM LONGOS ANOS DE EXPERIÊNCIA, PRECISAM DE MENOR TEMPO DE FORMAÇÃO, SENDO NECESSÁRIA APENAS A SUA ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS ROTINAS.

Mónica Póvoas
Fundadora da Age Friendly

Arealidade global de uma população mais envelhecida cria desafios às “velhas” maneiras de pensar e cria “novas” respostas aos seus desafios.

Uma comunidade age friendly oferece benefícios sociais e económicos ao incentivar a que organizações e empresas apoiem os seus seniores a serem saudáveis, ativos e independentes na sua comunidade.

As projeções da Eurostat apontam para que Portugal, entre os anos de 2019 e 2070, veja diminuir a sua força de trabalho em 28%, o que equivale a cerca de menos de 1 milhão de portugueses ativos. A melhor forma de inverter esta mesma tendência é encorajar então a população ativa, cuja idade se aproxima da reforma, a permanecer no mercado de trabalho.

Mas como reter a nossa população mais experiente e ainda atrair talentos das novas gerações?

Ao nível das organizações a cultura mais favorável é a da flexibilização, diversidade e igualdade das gerações. A cooperação que permite trabalhar em sintonia e harmonia de forma que se atinja o objetivo maior: o da demarcação concorrencial. Os trabalhadores mais jovens têm um melhor desempenho nas hard skills, o que é mais atrativo para as empresas. No entanto, é importante reforçar que os trabalhadores mais velhos, com longos anos de experiência, precisam de menor tempo de formação, sendo necessária apenas a sua adaptação às novas rotinas. Deste modo e para além da sua experiência, têm como pontos fortes as soft skills: têm um maior compromisso com o seu trabalho, estão motivados para aprender, registam menor absentismo, uma maior compreensão sobre a envolvência que os rodeia e sentem-se muito confortáveis na interação com as diversas gerações.

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Opinião . DOSSIER

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OS TRABALHADORES COM MAIS DE 55 ANOS AUTOAVALIAM-SE COMO COMPETENTES E APTOS PARA O SEU TRABALHO E REFORÇAM QUE O SEU BEM-ESTAR PSICOLÓGICO E SAÚDE FÍSICA SÃO PRIMORDIAIS NA SUA DECISÃO DE SE MANTEREM ATIVOS. NO ENTANTO, E INFELIZMENTE, A MAIORIA DAS EMPRESAS NÃO PARTILHA DESTA IDEIA POSITIVA.

 

É essencial encorajar as organizações a im- plementar, de uma forma natural, práticas de trabalho que sejam valorizadas pelos seus trabalhadores mais experientes e que os “vejam” pelas suas competências e não pela sua idade. É da maior importância reforçar que a idade é apenas um número e, como tal, não se deve sobrepor às suas verdadeiras aptidões. Os trabalhadores com mais de 55 anos autoavaliam-se como competentes e aptos para o seu trabalho e reforçam que o seu bem-estar psicológico e saúde física são primordiais na sua decisão de se manterem ativos. No entanto, e infelizmente, a maioria das empresas não partilha desta ideia positiva sobre a sua capacidade de trabalho e sobre o seu desempenho, como podemos verificar pelas baixas percentagens de população sénior ativa no nosso país.

Uma comunidade inclusiva ajuda a for- necer às pessoas ruas e edifícios seguros e acessíveis, melhores acessibilidades a empresas, instalações e serviços locais e desenvolve formas ativas de envolver toda a sua comunidade, independente- mente da sua idade, nos seus projetos.

Ser age friendly não beneficia apenas os mais velhos. É transversal a qualquer idade. Se temos transportes públicos facilitadores de entradas e saídas para os mais velhos, então também mulheres grávidas, crianças ou pessoas com deficiência irão beneficiar do mesmo.

Ao nível económico ser age friendly faz igualmente também todo o sentido. Em comunidades cujas práticas age friendly foram já adoptadas, verificaram- se conclusões que se revelaram extremamente importantes no que diz res- peito à forma como o mercado sénior influência esta atividade:

• Os seniores são ávidos consumidores: têm mais disponibilidade financeira do que quando eram jovens e os seus gastos são um bom impulsionador da economia local;

• Os seniores mantêm-se ativos: quer permaneçam num trabalho tradicional remunerado, quer iniciem uma nova atividade ou contribuam como voluntários ou mentores, eles aumentam a força do trabalho local;

• A geração “prateada” é empreendedora: como exemplo, os australianos com 50 anos ou mais, são, neste mo- mento, o segmento de empreendedorismo de crescimento mais rápido e ajudam a desenvolver as economias locais.

Por último, e não mais importante, não se pode esquecer o apoio que os seniores dão à sua família. São cuidadores de netos, o que permite que os seus filhos mantenham os seus empregos, cuidam dos seus parceiros, dos seus pais e reduzem desta forma a carga sobre o governo. Assim, e ao olharmos desta perspetiva, fortalece-se a compreensão de um mercado em crescimento e que não se pode negligenciar a fomentação das boas práticas age friendly numa população cada vez mais envelhecida.